O dilema moral de um médico.


 

Em uma diminuta coletividade enclausurada, onde os laços comunitários se entrelaçam com vigorosa intimidade, o médico, Dr. Josef, defronta-se com um dilema que o consome em profunda agonia. Diante de si, dois pacientes: um adolescente repleto de vigor e aspirações, padecendo de um mal letal somente sanável por um transplante; e um ancião em estágio terminal, desprovido de vínculos familiares, cujo órgão poderia restituir a esperança de vida ao jovem.

 Formado sob os preceitos do juramento hipocrático, o Dr. Josef sempre norteou sua prática pela premissa de não infligir dano. Contudo, o imbróglio atual o coloca em um verdadeiro impasse ético. Se, por um vértice, o utilitarismo propõe a otimização do bem-estar para a coletividade, salvaguardando o jovem, pelo outro, a deontologia enfatiza a sacralidade da vida de cada ente, independentemente de suas circunstâncias.

 A resolução deste cenário transcende a esfera técnica, imergindo em complexas camadas emocionais e psicológicas. Dr. Josef medita acerca das repercussões de sua decisão, contemplando não apenas as dimensões morais e éticas, mas também as legais. O arcabouço jurídico salvaguarda o direito à existência e a autodeterminação dos pacientes, enquanto a eutanásia ativa, ou qualquer ato que conduza à morte de um paciente, é vedada e considerada ilícito penal.

 Na comunidade, o adolescente é percebido como o alvorecer de um porvir promissor, enquanto o ancião, embora estimado, já é visto no crepúsculo de sua existência. Esta percepção coletiva adiciona uma camada extra de complexidade ao dilema do Dr. Josef, que se vê pressionado não somente por suas convicções pessoais, mas igualmente pelas expectativas sociais.

Em conflito, Dr. Josef resolve convocar um concílio com seus pares médicos, especialistas em ética e representantes comunitários. Neste encontro, expõe seu dilema, ressaltando os princípios utilitaristas, que advogam pela ação que traria o maior benefício geral, e os deontológicos, que defendem a aderência ao dever e aos direitos individuais acima das consequências.

 Os debates se mostram fervorosos, espelhando a pluralidade de visões e valores. Alguns advogam pela medida utilitarista, focando na vida que poderia ser redimida e no potencial futuro do adolescente. Outros, contudo, realçam a importância da dignidade humana e do respeito à existência do ancião, argumentando que a decisão de sacrificar uma vida em prol de outra inaugura um precedente moral e juridicamente perigoso.

 Ao fim, Dr. Josef, influenciado pelos debates, decide honrar seu juramento de não causar dano. Conclui que a decisão de intervir ativamente na vida do ancião para salvar o adolescente transgride preceitos éticos fundamentais, além de violar as normas vigentes. Opta, portanto, por concentrar-se nos cuidados paliativos ao ancião, assegurando-lhe o máximo de conforto e dignidade em seus derradeiros dias, enquanto busca alternativas legais e éticas para salvar o jovem.

 A decisão do Dr. Josef, embora árdua, reafirma os princípios de respeito pela existência, autonomia do paciente e integridade profissional. A coletividade, inicialmente dividida, começa a entender a complexidade da situação e a importância de aderir a princípios éticos e legais, mesmo diante de escolhas dolorosas. Este episódio deixa marcas indeléveis em todos, fortalecendo valores de compaixão, justiça e respeito mútuo.

A experiência do médico e da comunidade reflete um processo de desenvolvimento moral, onde indivíduos são confrontados com situações que desafiam suas convicções e requerem uma reflexão ética profunda. Este processo é essencial para o crescimento pessoal e a maturidade moral, como discutido por psicólogos do desenvolvimento, como Lawrence Kohlberg.


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